O dia hoje tá péssimo.

Foi bem pouco produtivo, resolver pepinos e coisas chatas mas necessárias as vezes acabam com o ânimo de alguém, principalmente o meu. Ainda bem que isso faz parte da vida e não é uma constante, ainda mais agora cheio de idéias e planos, se deixar levar por momentos assim só atrapalham.

Bem, não me deixo levar e aos poucos vou melhorando, trabalhando no que eu posso, pra amanhã começar o dia renovado e fazer o triplo do trabalho que faria num dia normal, essa é a vantagem de pequenas crises localizadas, o dia seguinte normalmente acaba compensando.

O inevitável também é pensar mil coisas e mesmo desanimado, não paro de pensar nos projetos e com isso, fiquei pensando muito no nosso maior projeto pra esse ano, o site de quadrinhos online que vai ser uma grande ferramenta, a maior revolução no nosso esquema tradicional de trabalho. Só tem um problema...um monte de gente não entende isso e um dos objetivos desse trabalho, além de atingir uma maior audiência, é também fazer incrédulos pararem pra pensar direito e analisar friamente a situação.

Andando por aí, absorvendo referências variadas pude notar diversas opiniões a esse respeito, a mais recorrente, da qual confesso que eu mesmo já fui muito adepto, é a de que webcomics não são a salvação (se é que precisamos de uma) dos quadrinhos, e que por isso temos pouco material bom e que a geração que nasce com internet vai ficar alienada com essa facilidade, imediatismo e esquecer que houve um meio maior e melhor de difusão disso. Agora devo discordar, e o único (e mais válido) argumento que vou usar é o nosso próprio projeto de webcomics.

Esse objetivo de tentar fazer as pessoas mudar de idéia está justamente nisso, primeiro nesse pensamento no parágrafo acima e segundo no que temos em mente. Antes de mais nada, não fizemos qualquer tipo de migração, não mudamos de time, não viramos a casaca, não tomamos a bandeira revolucionária pra tentar estabelecer um novo modo de pensar quadrinhos. É mais simples que isso, pra nós, NADA, absolutamente NADA mudou. O que fizemos foi seguir uma evolução simples que diz respeito pura e simplesmente ao nosso trabalho como autores independentes.

O que fizemos foi simplesmente eliminar coisas que nos impediam de aparecer mais, de ter mais material nas mãos das pessoas, eliminar obstáculos, motivos que fazem as pessoas pensarem no mais fácil: "eles são preguiçosos". Não, não somos e simplesmente estamos seguindo o único caminho que nos resta pra ir contra isso. Não temos condições de colocar nas ruas um fanzine impresso todo mês, não temos condições de ficar fazendo trocentas reimpressões, não damos conta de ficar mandando pelo correio e frustra muito saber que algo pelo qual nao recebemos um tostão, não está chegando à todas as pessoas interessadas simplesmente pq estamos brincando de editora. TÁ, fanzine é escola, é laboratório e NÃO vai acabar, quero que todos continuem fazendo, mas depois que você passar por tudo isso, qual o próximo passo? um contrato com a DC pra ser co-criador numa série da VERTIGO? é CLARO que não, essa escola não é tão clara e pura quanto aquela que passamos 12 anos, um após o outro seguindo aquele padrão imutável torcendo pra acabar logo. É por isso que é preciso fugir do padrão, não dá pra ficar seguindo regrinha e exemplo de quem já deu certo. Você é outra pessoa, colega, você pode demorar 20 anos pra conseguir o que você quer e enquanto ficar se segurando só pq o que você tá fazendo é o "certo" então tchau. Os tempos são outros, você tem ferramentas que não tinha 10 anos atrás e ignorar isso é pura e simples burrice. Eu mesmo lutei contra isso, quis ignorar até ver que eu tava simplesmente me sabotando.

Agora já sei como é editar um fanzine, já sei como é eu mesmo dobrar e grampear com borrachinha em baixo, já aluguei amigos e parentes pra ajudar, todos já furaram os dedos pela nossa arte e isso não atingiu muito mais gente que isso e dificilmente irá atingir. Nós já somos formados, fazemos a mesma coisa desde 2004, há quase 5 anos nisso e não vendo quase nenhuma evolução no que diz respeito a alcance, vemos nosso trabalho evoluir dramaticamente e vendo que pouca gente tem acesso a isso. Já passou, já sofremos, já labutamos, é hora de dar um outro passo.

Parece mais simples né? não é e eu já falei sobre isso antes. Eliminamos MUITOS obstáculos, mas se isso fosse a única coisa, não faria sentido dar continuidade, se eliminássemos obstáculos sem encontrar outros que nos ensinassem o que falta aprender, não seguiríamos por esse caminho. As coisas vai ser 1000x mais difíceis, vamos queimar neurônios, elevar nossas habilidades ao máximo extremo e tirar o melhor possível disso, eliminamos caminhadas cansativas, desidratação, dedos furados, dinheiro de passagem, impressão, brigas com operadores burros de xerox pra nos dedicarmos totalmente à nossa criação. É isso que estamos fazendo, procurando um modo de aprender mais do que já aprendemos, um modo de mostrar nosso trabalho a quem não viu, mostrar o quanto evoluímos a quem já viu, um modo de nos dedicarmos mais, nos esforçarmos mais e nosso plano segue por esse caminho até o momento só de êxitos.

Enfim, é só uma reflexão num momento mau humorado. É uma viagem longa num assunto simples que consiste em: continuar evoluindo, eliminando obstáculos desnecessários, atingir mais pessoas, mostrar pra quem já conhece que estamos por aí trabalhando e que não, isso NÃO é a salvação dos quadrinhos, é só um novo caminho pra quem quer mostrar seu trabalho sem precisar ficar carregando pasta por aí, não vai fazer a geração "nascida" na internet esquecer que houve um outro meio de publicar, ele sempre vai existir, apenas auxiliado por uma ótima ferramenta. Não muda o fato de que precisamos sentir na pele as etapas de publicação, fazer o impresso de baixo orçamento e sentir como é a forma tradicional de publicar.

É uma simples evolução, nem de longe é a salvação. Além do mais, salvação de quê? tá tudo mudando, nada desaparecendo, é tudo uma questão de se adaptar, largar conceitos ultrapassados e seguir pro futuro.

Bora?