Crítica da Crítica

É sempre bom ver uma certa divergência entre os diferentes pontos de vista de diferentes leitores-escritores-colunistas sobre uma publicação... o principal objetivo dessa situação é fazer com que os autores analisem o próprio trabalho através de um olhar que não é dele, um olhar que simplesmente não existe até que alguém decida começar a falar algo, mostrar coisas que ele provavelmente não veria se procurasse.

O que na verdade me incomoda nessa situação é o mal uso desse processo que de vez em quando rola. Eu na verdade tenho duas críticas a fazer aqui, uma é com relação à resenha que o Zé Oliboni fez para o UHQ sobre a Garagem Hermética #2 e a outra é com relação à reação (inexistente) das partes envolvidas no projeto.

Como eu disse no começo desse post, as resenhas servem pra gente ver a coisa por outros ângulos, mas justamente por isso não devemos pegar só o que foi positivo pra gente e sair divulgando, mostrando como somos bons, claro que isso é completamente natural e é um dos meios mais eficientes de botar um trabalho no mercado e ganhar atenção do público, mas também por isso não devemos ignorar o que for contrário ao que pensamos, não devemos ignorar as críticas negativas e acho que quando surgem algumas discrepâncias, é correto dizer alguma coisa em defesa. Uma coisa é ficar discutindo com mil pessoas sobre o ponto de vista de cada uma, outra é responder a algo pouco pensado por uma única pessoa.

Calma que eu explico.

O meu ponto aqui é defender o projeto Garagem Hermética de uma crítica pouco pensada, é visível por muita gente a evolução de um número para o outro, tanto em qualidade de histórias quanto gráfica, mesmo que essa última tenha sido mais por um desencontro de informações. O que eu acho é o seguinte, a Garagem possui uma proposta democrática de divulgar o trabalho de diversos autores em seus respectivos estilos e linguagens, este é que é o principal atrativo, é o que dá nome à revista é o que vem chamando a anteção da mídia especializada. Porém, eu acho que o Oliboni deu uma leve pisada na bola na sua resenha sobre o segundo número da revista. Se fosse essa a sua primeira resenha tudo bem, o grande problema é a discrepância enorme com relação ao texto do mesmo autor sobre o primeiro número.

Em partes eu ainda concordo com a resenha, é correto dizer que o meu desenho aparenta uma decaída com relação aos trabalhos anteriores, mas isso se deve ao simples fato de que essa história é mais antiga que as anteriores. Eterno é um projeto longo e já vem sendo trabalhado desde a publicação da última parte do Chuva Contra o Vento, há quase dois anos atrás, e por isso já passamos por várias revisões e idéias diferentes e uma delas foi esse prólogo. Eu desenhei essa história já tem mais de um ano, a princípio era pra ser a primeira parte da série, mas a história ficou muito curta e acabou sendo engavetada, até que por um desespero de última hora pra entregar o material para o segundo garagem, pintou a idéia de desengavetar essa história e aproveitar a proximidade do lançamento da série, transformando-a em um prólogo. Parecia o ideal para um bom início de divulgação e então apresentei para a editora.

Nos prólogos, no entanto, está implícita a condição de "teaser", de "atiçador" de curiosidade, uma história inacabada cheia de pontas abertas que serve para o leitor correr atrás de mais coisas relacionadas, pode ser uma continuação, pode ser algo maior, quem sabe? é pra isso que serve o teaser, pra instigar as pessoas a ir atrás, a se interessarem e ao fazer um "teaser" também está implícito a vontade dos autores de mostrar mais coisas, fazer um bom trabalho de divulgação e fazer justiça à curiosidade dessas pessoas, portanto acho absolutamente desnecessário mostrar tudo mastigadinho pra quem está lendo. Eu confesso que pensei em colocar nos créditos finais algo como "continua na minissérie tal, lançada em tal data", mas fugia de todo o conceito que eu pensei pra essa história e é nisso que eu discordo com que o Oliboni escreveu na crítica. Eu não preciso dizer quem é o personagem no último quadro, o rosto dele não aparece inteiro por uma razão, nomes não sao dados por uma razão e o único objetivo mais explícito dessa história é o de apresentar o protagonista da história, mostrar um pouco da situação dele, do que ele espera pela frente e dessa forma preparar o terreno pra nossa enorme história. Eu posso demonstrar uma "derrapada" no desenho pelos motivos que já citei, mas acho que devo defender o roteiro e a proposta da história, é um equívoco chamar a falta de informação de "derrapada" ou então não diríamos que se tratava de um prólogo.

Agora com relação a revista, outra derrapada do autor. Ele inicia a resenha para os dois números identificando a GH com a frase "(...)verdadeira proposta é trazer HQs com estrutura narrativa variada, apresentado novos autores nacionais."

Mas logo em seguida aponta isso como sendo a falha da revista, acho que isso é que é uma derrapada, por que já que essa é a falha da revista, então é um fato que deveria ser apontado já na primeira edição pois é lá que todo esse conceito é apresentado.

Eu sou um fã declarado do Oliboni, é raro alguém que defenda os quadrinhos independentes com a vontade que ele demonstra, com o bom gosto com que trata os bons materiais lançados, mas acho que um pouco mais de atenção seria o recomendado ao resenhar um projeto que possui mais de uma edição, pensar um pouco melhor nas propostas e no que ele próprio escreveu sobre o número anterior.

4 Responses to “Crítica da Crítica”

  1. # Anonymous Anônimo

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  2. # Blogger Cadu Simões

    Mas que tipo de reação vc esperava? O Oliboni aponta como erro algo que é justamente a proposta da revista. Essa proposta eu já deixei bem clara logo no primeiro parágrafo do editorial do primeiro número. Não há mais o que ser dito. Agora ele quer harmonia numa revista que se propôs a ser desarmônica. Aliás, a edição perfeita da Garagem será aquela que for mais caótica possível.
    Mas se o Oliboni ou qualquer outra pessoa não gosta da proposta da revista, não podemos fazer nada. Mas erro mesmo teria sido se nós tivéssemos nos propostos a fazer uma coisa, e fizéssemos outra. Como não foi isso que aconteceu, a crítica dele de nada vale pra gente.  

  3. # Blogger Edu Mendes

    Galera,
    Concordo com o Cadu.
    A "resenha" do Oliboni desmonstra que ele nunca entendeu a proposta da revista.
    Além do mais, eu nunca chamaria o texto dele de crítica, já que as opiniões que ele expressa raramente são fundamentadas ou amparadas em algo. Pra mim, no máximo, é uma opinião, não uma crítica.  

  4. # Blogger Rodrigo Braga Alonso

    Não vi nenhuma dessa discrepância entre a primeira resenha e a segunda que você diz tanto.
    -
    Na primeira resenha ele sequer toca no assunto, ele só analisa história a história, dizendo qual ele achou boa e qual ele achou ruim.
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    Na segunda que ele resolve falar sobre o assunto e ele diz bem claro, que ele sente que falta algo conectando as histórias, a questão é que ele vê isso como uma falha e aí eu digo, ou faz que nem está se fazendo, que é abraçar isso como a intenção mesmo da revista e continua em frente ou muda a proposta toda. Eu sinceramente prefiro que continue como está, mas tem que ter em mente o que ele falou, essa postura de que "ele falou um monte de asneiras" é que me preocupa, será que se fosse uma crítica positiva, dizendo, sei lá, "a revista é perfeita porque as histórias harmonizam entre si, criando um ambiente nada anárquico" teria tido essa revolta toda?
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    Engraçado que eu gostei bem mais dessa crítica do que da primeira, eu até escrevi uma crítica própria minha da primeira edição porque achei que as que tavam rolando por aí estavam muito pobres, essa eu não achei pobre, ele não fez nenhuma questão de puxar nosso saco, escreveu bem, escreveu o que pensou e não disse nada de errado.  

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